NICOLAU, O IMORTAL

15/03/2016
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Ator, produtor e realizador. O nome Nicolau Breyner era todos os nomes, ou era só um porque não precisávamos de mais nada. Numa segunda feira preguiçosa e cheia de sol, alguém grita, 'morreu o Nicolau Breyner!' Não acreditámos ou não queríamos acreditar. E de repente só nos veio à cabeça que seria uma notícia falsa. Mas não era.

Nicolau Breyner morreu.
O Sr Contente deixa um país tristonho e incrédulo com uma partida que parece tão repentina, tão inesperada e tão breve para quem nos deu tanto e nos fez tão maiores. Nicolau, o Imortal, leva consigo a missão cumprida porque "a missão do ator é simplesmente emocionar as pessoas. Levá-las ao riso ou às lágrimas. Fazer com que nos odeiem ou nos amem. Enfim...É fazê-las sonhar”, e foi isso que ele nos fez nos últimos 50 anos de carreira.

 

ALENTEJANO NOS PALCOS DE LISBOA

Nascido em Serpa, no Alentejo, cedo veio para Lisboa para estudar Canto no Conservatório, curso que rapidamente trocou pelo de Teatro, por vocação. Estreia-se nos palcos em 1960 e logo a seguir enveredou pela Televisão com "Cruzeiro de Férias” ao lado do grande António Silva. Mas isto foi só o início de uma década que o iria a imortalizar como uma das principais figuras da cultura portuguesa.

O SR. CONTENTE






Foi a seguir a 1974 que Nicolau veio revolucionar tudo aquilo que acreditávamos saber sobre o panorama televisivo português: "Nicolau no país das Maravilhas” surge como uma brisa num país fragilizado e cheio de novos ideais, e a rábula "Sr Feliz, Sr. Contente” que protagonizou ao lado de Herman José, era o essencial para o perceber melhor, através de uma crítica subtil em forma da mais inocente das canções, ainda tão atual nos dias de hoje.

NICOLAU BREYNER, A FICÇÃO E O LEGADO






A televisão portuguesa deve-lhe muito com programas como "Eu Show Nico” e "Gente Fina é Outra Coisa” mas é "Vila Faia” que o faz saltar para a sala de cada um de nós, todas as noites, à mesma hora. A primeira novela portuguesa, onde interpretava o marcante Joao Godunha, é da sua co-autoria, mérito que ninguém lhe tira. E era só a primeira.

A história das telenovelas portuguesas está cheia de Nicolau Breyner, o que o levou a fundar a NBP Produções, produtora televisiva que hoje é a Plural Entertainment e que continua a ser a maior produtora do género.

A constante procura de novos talentos é um dos seus traços mais marcantes: ensinou teatro, cinema e televisão e deixou por terminar um projeto de uma academia de busca de talentos na área da representação, no seu sempre Alentejo. 

O MESTRE DA 7ª ARTE






O cinema também foi dele em todos os sentidos. Nele foi ator, realizador e produtor, o que o levou a trabalhar com os maiores nomes desta área em Portugal.


"O Barão de Altamira” de Artur Semedo fê-lo deixar o cunho; "Jaime” de António-Pedro Vasconcelos confirmou-o; "Os Imortais”, também de António Pedro Vasconcelos, deu-lhe eternidade ao talento e à persona. Filme que em conjunto com "O Milagre Segundo Salomé” de Mário Barroso e "Kiss Me” de António da Cunha Teles lhe valeram 3 globos de ouro.

Ultimamente entrou no aclamado "Os Gatos não têm Vertigens” também de António-Pedro Vasconcelos.

O ATOR QUE FOI MUITO MAIS

"O ator mais brilhante da sua geração” sempre foi mais qualquer outra coisa, e até se candidatou à autarquia de Serpa, a terra natal do homem que nunca esqueceu o Alentejo.

Em 2005 foi distinguido com a Ordem de Mérito pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, e ontem foi distinguido como uma eterna memória por todos nós.

Nicolau Breyner, ou Nico, ou Sr. Contente, ou o Imortal, deixou-nos sem nunca encontrar sinais de decadência na profissão. Foi embora em todo o seu esplendor para nos deixar com vontade de mais e é assim que ficamos. 

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