JOÃO NICOLAU REGRESSA ÀS LONGAS COM ‘JOHN FROM ‘

11/12/2015
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A adolescência volta a estar no campo de visão do realizador.

É a segunda longa-metragem de João Nicolau, que está a marcar presença nos mais conceituados festivais de cinema mundiais e tem estreia comercial marcada para março de 2016. Hoje antestreia na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. 

 

UMA LISBOA NO PACÍFICO SUL

É uma união de forças criativas entre a produtora portuguesa O Som e a Fúria e a produtora francesa Shellac Sud. É também o regresso de João Nicolau à temática da adolescência e ao local onde, não só cresceu, como filmou a primeira curta-metragem da sua carreira como cineasta. Em "John From”, o realizador volta a escolher uma zona residencial em Telheiras, mais distante da Lisboa típica e turística que habitualmente é retratada pelo cinema português. 



Filmado em película de 16 mm, o filme conta a história de Rita, uma adolescente de 15 anos e ainda com a plenitude de um mundo inteiro à sua frente. Tem sonhos em estado bruto e mergulha descomprometida na descoberta de afetos e sensações. As férias de verão chegaram e há que preencher o tempo: Rita gosta de molhar o chão da varanda, de o chapinhar com demora, numa clara manifestação de liberdade pueril, e de apanhar longos banhos de sol, enquanto espera que o mundo passe. A juntar aos seus dias, ainda faz tranças e mostra a sua arte em festas. É a rotina de uma menina que está a deixar por completo a infância, alternada por momentos de amor juvenil e de partilhas mais ou menos certeiras com Sara, a sua amiga e confidente. 



Um certo dia, algo mais forte e empolgante acontece e até o bairro onde Rita vive transforma-se numa ilha do Pacífico Sul. A mudança de tudo, até do ecossistema, dá-se quando a protagonista vê uma exposição, assinada por um vizinho mais velho, no centro comunitário do bairro. Está dado o ponto de partida para uma sucessão de episódios que inevitavelmente vão fomentar uma aproximação entre os dois e, ao mesmo tempo, desmontando, com doçura, a adolescência. 




A JUVENTUDE DA PAIXÃO

Com o "John From”, João Nicolau propõe a exploração artística daquilo que existe de mais verdadeiro na paixão entre uma adolescente e um homem mais velho: a beleza. Quer com isto ficar distante de quem olha para uma relação desta natureza como uma espécie de disfunção psicológica ou como um sintoma de doença social. Assegura o realizador que "nada é tão feroz como o coração de uma menina” e que "se há coisa mais pura e violenta” não sabe qual é. E o filme gira à volta disto mesmo. Para o cineasta português, é uma obra que "procura auscultar a lógica e as metamorfoses da paixão juvenil”, sendo um filme "assumidamente púdico e lúdico”. O humor, a emoção e o melodrama cruzam-se na tela, tal como acontece na vida. 



Para o realizador português, filmar e ouvir outras gerações funcionam como uma motivação extra e um desafio que o permite aprofundar o conhecimento do mundo através da sua arte, o cinema. Há um outro desafio para o cineasta e centra-se numa questão de género: é que, pela primeira vez, João Nicolau escolheu uma mulher para protagonista, algo que considera ser um novo universo a explorar. 

Do elenco fazem parte nomes como os das jovens atrizes Júlia Palha e Clara Riedenstein (uma estreia no cinema para ambas) e atores mais experientes, entre os quais, Filipe Vargas, Leonor Silveira e Adriano Luz.


UM FILME BEM ACOLHIDO EM TODO O MUNDO

Recentemente, "John From” esteve em competição nos mais prestigiados festivais de cinema em todo o mundo. Em França, foi selecionado para a competição internacional do Festival de Cinema Entrevues em Belfort e para a competição do Cinemed – Festival Internacional de Cinema de Montpellier. Esteve também a concurso na secção Competição Novos Diretores, na Mostra de Cinema de São Paulo e na Janela Internacional do Recife, no Brasil. Em Espanha, foi apresentado no Festival de Cinema de Sevilha e exibido no Festival Cineuropa, em Santiago de Compostela e, em Itália, foi selecionado para a competição internacional do Festival de Cinema de Turim. 

O REALIZADOR

João Nicolau nasceu em Lisboa em 1975. Com formação em Antropologia, fez a primeira aproximação ao cinema, do ponto de vista da criação, com a realização de "Calado Não Dá”, um documentário para a sua tese de mestrado. É realizador, editor de cinema, foi ator no filme "A Cara que Mereces” de Miguel Gomes e é também músico. Já colaborou com grandes vultos do cinema português como João César Monteiro ou Margarida Gil e a sua, ainda curta, carreira prima por já ter várias obras premiadas e exibidas em prestigiados festivais de cinema internacionais, como os de Cannes, Veneza, Locarno, São Paulo, Belfort, Viena, Buenos Aires, Sevilha, Milão, Monreal, Roma, Sarajevo, Valdivia ou Angers.

Em 2006, "Rapace”, a primeira curta-metragem de ficção que assinou, estreou em Cannes e foi galardoada com o prémio de Melhor Filme no Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde. Três anos depois, realizou a curta "Canção de Amor e Saúde” e voltou a recolher boas críticas nacionais e internacionais.    



Em 2010, deu ao mundo a sua primeira longa-metragem, "A Espada e a Rosa”, filme que foi exibido no conceituado Festival de Veneza e esteve nomeado para Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires. Em 2012, voltou às curtas com "O Dom das Lágrimas” e um ano depois com "Gambozinos”, com as quais voltou a arrecadar mais distinções e reconhecimento em várias partes do mundo.


Esta semana, é o realizador em foco do Festival de Cinema Luso-Brasileiro que decorre até dia 13, em Santa Maria da Feira. Em jeito de retrospetiva e de reconhecimento pela sua visão cinematográfica, vão ser exibidas as principais curtas-metragens e as suas duas longas-metragens, incluindo "John From”, que integra a seleção oficial. 





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