CINEMA PORTUGUÊS VOLTA AOS GRANDES FESTIVAIS. DESTA VEZ, A TORONTO.

19/08/2016
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O Festival Internacional de Cinema de Toronto arranca já no dia 8 de setembro. Até dia 18, uma das montras mais prestigiadas do cinema mundial vai estar do outro lado do Atlântico.

Portugal volta a estar muito bem representado: João Pedro Rodrigues volta aos grandes festivais com "O Ornitólogo”, Paulo Branco assina as produções ou coproduções de "Cosmos”, "À Jamais” e "Os Belos Dias de Aranjuez”, Rodrigo Areias partilha a coprodução de "O Auge Humano”, Gabriel Abrantes leva a curta-metragem "A Brief History of Princess X” e Joana Pimenta integra a lista da secção "Wavelengths” com "Um Campo de Aviação”.       

 

JOÃO PEDRO RODRIGUES LEVA UM MUNDO TRANSFIGURADO A TORONTO

"O Ornitólogo” de João Pedro Rodrigues segue para Toronto já com uma aclamada distinção. Na recente edição do festival de cinema de Locarno (na Suiça), a visão provocadora e por vezes subversiva do cineasta português foi reconhecida com o prémio Leopardo para Melhor Realizador.

Uma coprodução entre Portugal, França e Brasil, "O Ornitólogo” narra uma história e segue uma viagem pelas paisagens nortenhas do Douro e Trás-os-Montes. A viagem é a de Fernando (personagem interpretada pelo ator francês Paul Hamy) que vai andando pelos caminhos labirínticos das florestas que encontra ou vai seguindo apenas o seu próprio caminho, enquanto ocupante de um lugar no mundo. Poderia ser esta a premissa para uma narrativa simples e bucólica sobre a jornada de um homem, mas há muito mais.

É que os caminhos deste homem solitário, observador de aves, cruzam-se com uma sequência de desvios fantásticos, oníricos e abertos a muitas interpretações. Desaguam numa espécie de transformação da realidade e, acima de tudo, na transformação deste homem. 

PORTUGAL FORTE NA PRODUÇÃO

Depois de 15 anos sem filmar, "Cosmos” é o filme que marcou o regresso do cineasta polaco, Andrzej Zulawski, ao frenesim das rodagens e à textura das películas. Só por isso, já teria de ter algo especial, mas por ser a última obra do realizador, falecido no passado mês de fevereiro, "Cosmos” (rodado na íntegra em Portugal) ganhou um valor inestimável.

É então uma espécie de comédia que gira à volta da metafísica, tal como nós, por vezes, giramos à volta das dúvidas e dos mistérios do universais. Gira à volta de uma espécie de puzzle da transcendência, mas também de dois amigos, de uma família e de uma paixão a desviar-se para o tortuoso caminho da obsessão. Sendo uma coprodução entre França e Portugal, no elenco cruzam-se as duas nacionalidades. Além dos atores franceses (Sabine Azéma, Jean-François Balmer e Jonathan Genet) "Cosmos” conta com muito talento português, como é o caso da jovem promissora atriz Victoria Guerra, que veste a pele da protagonista, e dos atores Ricardo Pereira e António Simão.

Outro filme totalmente rodado em Portugal e na programação de Toronto é "À Jamais”, de Benoît Jacquot, película que contou também com a coprodução de Paulo Branco e que volta a sublinhar o talento da atriz Victoria Guerra, mas também de outros atores portugueses, como é o caso de José Neto, Elmano Sancho e Rui Morisson. Paulo Branco partilha ainda outra coprodução neste festival. Mais uma vez, o produtor português juntou-se a Wim Wenders, desta vez para "Os Belos Dias de Aranjuez”, um filme inspirado numa obra de Peter Handke.

Na programação do festival de Toronto, ainda destaque para "O Auge Humano", de Eduardo Williams, uma coprodução argentina, brasileira e portuguesa que também foi premiada em Locarno, com o prémio Leopardo de Ouro, na secção "Cineasta do Presente”. A película conta com a coprodução do português Rodrigo Areias. 

AS BREVES HISTÓRIAS DE GABRIEL ABRANTES E JOANA PIMENTA

Gabriel Abrantes nasceu na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mas por estes dias vive, trabalha e cria em Lisboa. A Toronto leva a curta "A Brief History of Princess X” (uma coprodução entre Portugal, França e Reino Unido) onde, em 7 minutos, é contada a história, de uma escultura de bronze esculpida pelo artista romeno Constantin Brancusi, um dos grandes nomes do modernismo e da abstração nas artes plásticas. Moldada com as formas genitais masculinas e de uma perspetiva surrealista, a escultura dilui-se com aquilo que pode ser o busto da sobrinha bisneta de Napoleão, Marie Bonaparte. É mais uma experiência arrojada e insolente do jovem realizador, não fosse este um confesso amante da arte de desconcertar ou surpreender.

Mas há mais uma curta-metragem, com assinatura portuguesa, na lista de filmes que vão ser projetados em Toronto. "Um Campo de Aviação”, da jovem e já premiada realizadora Joana Pimenta, vai integrar a lista da secção "Wavelengths”. A sinopse não revela muito mais do que um encontro entre duas pessoas (separadas por 50 anos) num campo de aviação, algures num subúrbio incerto. Mais do que isto? Bem, há uma cidade que se levanta e que se dissolve. É sobretudo um exercício mais experimental que Joana Pimenta leva a Toronto.

Este ano o prestigiado festival canadiano celebra 40 anos de existência. Entre os destaques na programação, estão filmes como "The Edge of Seventeen”, de Kelly Fremon Craig, "The Magnificent Seven”, de Antoine Fuqua, "Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, "Voyage of Time: Life’s journey”, de Terrence Malick, "Snowden”, de Oliver Stone ou "Julieta”, de Pedro Amodóvar.

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